Seguro de carro usado encarece e setor procura alternativas

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Em janeiro de 2012, ano de bonança no mercado automotivo nacional, a advogada Flávia Moreira Bacha Meana renovou o seguro de seu Peugeot 207 Passion e viu que a apólice ficou R$ 130 mais cara. Na época, a justificativa foi o aumento do risco de roubo em seu bairro, na zona oeste de São Paulo.

Passados dez anos sem nenhum assalto ou colisão, e com duas trocas de carro nesse período, a advogada recebeu um novo cálculo com reajuste alto entre um ano e outro. Mas o motivo foi diferente: de acordo com a seguradora, seu automóvel atual valorizou.

“Fiquei impressionada quando a corretora mandou o cálculo, meu carro está valendo bem mais hoje do que no ano passado”, afirma Flávia. Embora a valorização pareça uma boa notícia, trata-se do sintoma de um conjunto de problemas. E tampouco é o único motivo para o encarecimento das apólices.

“Vivemos um cenário nunca visto anteriormente. Há falta de insumos, atrasos de fretes, falta de contêineres, lockdown, voos cancelados, uma infinidade de situações que impactaram a logística global, refletindo também no segmento de automóveis”, diz Eduardo Dal Ri, presidente executivo da HDI Seguros.

“Diante desse contexto, houve uma menor produção de veículos, repercutindo no preço final dos carros, tanto novos quanto seminovos e usados.”

Dal Ri acrescenta que o preço cobrado para garantir a cobertura do bem por meio de um seguro é diretamente proporcional ao valor do veículo. Ou seja, se o carro se valoriza, é provável que o montante cobrado pela seguradora seja maior.

O automóvel atual da advogada Flávia Moreira é um Peugeot 2008 Griffe ano 2017. Em janeiro de 2021, seu valor na tabela Fipe, que serve de base para as seguradoras, era estimado em R$ 53,8 mil. Hoje a mesma tabela indica um preço médio de R$ 66,9 mil. Já o valor da apólice teve um acréscimo de 17%.

O encarecimento da cobertura é refletido na arrecadação do setor. De acordo com a Fenseg (Federação Nacional de Seguros Gerais), houve alta de 8,8% na comparação entre 2020 e 2021, tendo chegado a R$ 38,4 bilhões no ano passado.

“O mercado vem se recuperando gradativamente desde o início da pandemia. Em 2021, a arrecadação do [ramo de] seguro automotivo totalizou R$ 38,4 bilhões em volume de prêmios, uma expansão nominal de 8,8% em relação ao ano anterior”, diz Antonio Trindade, presidente da Fenseg (Federação Nacional de Seguros Gerais).

A entidade ressalta que parte desse aumento se deve às altas registradas sobre os preços dos veículos novos e usados, além do encarecimento das peças de reposição.

Roberto Posternak, diretor comercial da empresa de monitoramento Ituran, lembra que os sinais dados pelo mercado nos primeiros meses da pandemia de Covid-19 até poderiam levar a uma redução no preço das apólices, mas o quadro mudou rapidamente.

“Os carros começaram a sair das ruas, o que reduziu o volume de sinistros”, diz Posternak. Mas ele lembra que, logo em seguida, houve a alta na procura por automóveis particulares, acompanhada pelos problemas nas linhas de produção e o encarecimento dos carros zero-quilômetro.

O diretor da Ituran acredita que os valores das coberturas se manterão entre 15% e 20% mais altos neste ano do que em 2021, já que ainda não houve a normalização das atividades no setor.

As montadoras seguem com dificuldades para obter componentes, principalmente semicondutores. Nesta sexta (25), o Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e Região aprovou um novo pedido de layoff (interrupção temporária dos contratos de trabalho) para trabalhadores da fábrica Caoa Chery de Jacareí (interior de São Paulo). O início está previsto para março e deve se estender por 52 dias, atingindo 450 dos 700 trabalhadores.

Em São Bernardo do Campo (Grande São Paulo), a fábrica de caminhões da Mercedes-Benz também terá parte das atividades interrompida por 12 dias em março devido à falta de peças.

Embora os problemas de fornecimento e os aumentos de preço sejam generalizados, há forte concorrência no setor de seguros. Por isso as empresas precisam de alternativas para tentar fidelizar clientes e ampliar a base de segurados. Segundo a Fenseg, apenas 30% da frota circulante possui algum tipo de cobertura securitária.

“Acompanhamos diariamente as movimentações de mercado e procuramos sempre por alternativas visando o menor impacto possível para o consumidor, melhorando os processos e reduzindo os custos”, afirma Luiz Padial, diretor de automóveis da seguradora Tokio Marine.

As companhias começam a criar alternativas com base na circular 639/2021 da Susep (Superintendência de Seguros Privados), em vigor desde setembro. A nova norma simplifica o processo de contratação de seguros, podendo reduzir o valor da apólice de acordo com os serviços escolhidos pelo cliente.

Entre as mudanças está o fato de a apólice não precisar obrigatoriamente estar no nome do proprietário do veículo, beneficiando, por exemplo, motoristas de aplicativo que utilizam carros alugados ou por assinatura.

“Mais do que falar em deixar o seguro barato, é preciso falar em deixar o preço correto para cada risco”, diz Eduardo Dal Ri, da HDI Seguros. “É preciso escolher, com a ajuda do corretor, as coberturas que se adequam ao seu perfil, não pensando apenas no roubo ou no furto do veículo, mas também em colisões, danos a terceiros e serviços de assistência.”

 

Fonte: Folha

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